A inveja

Vivemos em um mundo que sabemos existem sentimentos que precisam ser trabalhados, transformados, natural. Todavia, é preciso que nos lancemos, sempre, ao processo de auto descoberta, a fim de que não venhamos a nos denunciar negativamente com as permissões sem freios do nosso mesquinho sentir.

O processo de crescimento espiritual implica em não nos permitirmos os devaneios maldosos, do pântano afetivo em que nos atolamos, quando deixamos estas sombras morais assumirem nossas ações e palavras.

Tomás de Aquino já escreveu sobre as filhas da inveja, onde assevera, em suas palavras, que “invejar, pelo seu próprio objeto, implica algo contra a caridade: pois é próprio do amor de amizade querer o bem do amigo como se fosse para si mesmo, porque, como diz o Filósofo, o amigo é como se fosse outro eu. Vemos, então, que o amigo conversa, esclarece, expõe, mas daí a se entristecer ou se revoltar com a felicidade do outro é claramente algo oposto à caridade, pois, por ela amamos ao próximo. E nesse particular não existe lógica, a pessoa pode ter tudo, fama, dinheiro, mas, se o ego for grande, não perdoará pessoa alguma  que siga o mesmo caminho.

Ora, sendo a inveja uma tristeza pela glória de outro, prossegue o doutor da Igreja, considerada como um certo mal, segue-se que, movido pela inveja, tenta fazer coisas contra a ordem moral para atingir o próximo e, assim, a inveja é vício capital.
Nesse impulso da inveja, há princípio e termo final. O princípio é precisamente impedir a glória alheia, que é o que entristece o invejoso, e isto se faz diminuindo o bem do outro ou falando mal dele: disfarçadamente, pela murmuração [sussurratio, fofoca], ou abertamente, pela detratação.

Já o termo final da inveja pode ser considerado de dois modos: um primeiro diz respeito à pessoa invejada e, nesse caso, o impulso da inveja termina, por vezes, em ódio, isto é, o invejoso não só se entristece pela superioridade do outro, porém, mais do que isso, quer seu mal sob todos os aspectos.

De um outro modo, o termo final desse impulso pode ser considerado por parte do próprio invejoso, que se alegra quando consegue obter o fim que intentava: diminuir a glória do próximo e, assim, se constitui esta filha da inveja que é a exultação pela adversidade do próximo. Mas, quando não consegue obter seu propósito – o de impedir a glória do próximo -, então se entristece: é a filha da inveja chamada aflição pela prosperidade do próximo.

Assim, muito cuidado com o seu chamado juízo de valor, quando muitas vezes, arvorando-se dono da verdade, você busca na sua arrogância definir o que é certo ou errado, passando da sensatez ao desequilíbrio das palavras, pois estará evidenciando o seu desajuste, a sua falta de competência para gerenciar os seus fracassos e dissabores. Talvez aqui ficasse muito bem colocada a sugestão da sabedoria do parachoque do caminhão: “Não me inveje, trabalhe.”.

José Medrado é médium, fundador e presidente da Cidade da Luz.

E-mail: cidadedaluz@cidadedaluz.com.br

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