Fanatismo espítita

Allan Kardec, principalmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX, nos leva a considerações em torno da fé, afirmando que ela pode ser cega ou raciocinada. No primeiro caso, a fé nada examina e aceita tudo como verdadeiro, até mesmo o que é falso. Já quem tem a verdade como base, será capaz de resistir às transformações que o progresso do conhecimento nos traz. Assim, o mestre Kardec apresenta a fé inabalável como sendo “a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Causa-me espécie, no entanto, passando em revista algumas atitudes de espíritas, a negação angular dessa propositura da nossa religião, pois a paixão por médiuns, espíritos quebra as raias do saudável, enveredando pela esquisitice do alento que alguns líderes espíritas cultivam em torno de si. E, a partir daí, ai de quem venha discordar de algum espírito-grife, simplesmente porque quer melhor entender, ou mesmo não aceita as posições, ou as aponta como equivocadas. Entra o fanatismo em ação, fazendo descer ribanceira abaixo a fraternidade, a educação e, então, são revelados os sentimentos inconfessáveis e caem as máscaras de “paz”, tão bem apreciadas em nossos arrais.

Nesse enfoque, veremos também na doutrina-religião, que se propõe a ser de razão, componentes do chamado fundamentalismo, que caracteriza o fenômeno do fanatismo nos dias atuais. O fanatismo se caracteriza pelo “excesso de zelo na defesa de certos ideais religiosos dando margem para alguns assombrosos banhos de violência de toda a natureza, seja verbal ou mesmo de sangue”, afirmam Lopes e Lobato, em A Peste das Almas – História de Fanatismo.

Ainda, segundo Lopes e Lobato, a violência do fanatismo não é apenas uma prática de julgamento, mas a própria negação da ideia de Justiça. A banalização da intolerância nasce de uma simples não-aceitação de um ponto de vista contrário ao que se tem como verdade divina, irretorquível, até o ponto de, mais e mais, o intolerante se deixar arrastar pelo impulso de paixões cegas, esquecendo-se, inclusive, dos princípios brandos que devem nortear a profissão de quem segue uma fé religiosa.

Tenho, pessoalmente, vivenciado esses chiliques de alguns sem temperança, quando discordo, digo que não gosto, ou não leio este ou aquele autor espiritual ou não. É um “deus-nos-acuda” daqueles!

Admiração, comunhão de pontos-de-vista, tudo é muito saudável, quando estamos em um grupo buscando aparentes “iguais”, mas, como perder o sentido de respeito à individualidade, à liberdade de consciência e/ou pensamento e continuarmos afirmando defensores de uma fé raciocinada?

Não restam dúvidas, também, de que todo estímulo de massa vem acompanhado de lideranças; logo, é certeiro afirmar que desagrada alguns líderes espíritas serem questionados, indagados, razão pela qual o distanciamento, a postura de concordar com todos, sempre foram muito bem preservados pela prática da convivência de alguns pregadores espíritas; mas, estamos no século por excelência da notícia instantânea, onde tudo se sabe e se divulga, logo as pessoas estão mais perspicazes.

José Medrado é fundador e presidente da Cidade da Luz

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