Na última sexta-feira, fui convidado pela Presidência da República, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, para fazer parte da elaboração do Plano Nacional de Valorização e Respeito à Diversidade Religiosa. Guardo o orgulho de ser o único representante espírita escolhido para este desiderato, dentre dez convidados de todo o país, de diversas religiões. O convite veio reforçar exatamente o que tenho feito, gritando por toda sorte de intolerância vivenciada em nome das religiões, inclusive na minha.
A vida tem sinalizado para mim que o importante é a honestidade com que se luta pelo seu ideal, não guardando receios de “forças” em desalinho com a liberdade de consciência e/ou pensamento, pois o agradável ao Alto, entendo, é o que passa pela coerência, bom-senso e respeito à diversidade.
Vivemos emergidos em sistemas, até os familiares, que tendem a reagir ao novo, a uma forma diferente de ver e falar da vida. Toda mudança de padrão e independência construtiva na elaboração de novos pontos-de-vista funciona com uma espécie de invasão sistêmica, que precisa ser isolada, aniquilada. Surgem os “chiliquentos”, os fanáticos, os passionais que se debatem no atavismos de seus conceitos e preconceitos que, desarticulados em seus destrambelhamentos, saem para agredir, violar as normas do direito do outro ser como é e ter as suas opiniões próprias. São enfermos da tolerância.
Vemos, dessa forma, a perseguição, em especial, às minorias que pensam diferente, que fogem ao padrão de um sistema que dita “verdades” e não aceita o contrário. Nesse sentido, como tem sofrido o povo de santo, que se vê massacrado e sem maiores vozes em sua defesa.
Assim, e já era tempo, vem esta iniciativa federal, que guarda no subsecretário de políticas para comunidades tradicionais, Alexandro Reis, um grande entusiasta, ao lado, mas não menos entusiasmado, do Babalorixá Ivany, grandes alavancadores deste bendito plano.
As pessoas não podem se sentir donas dos direcionamentos de crença e religião de quem quer que seja, muito menos serem patrulhadoras do que julguem certo ou errado em matéria de fé.
Infelizmente, o ideal democrático que ainda estamos realmente construindo não passou pela profissão de fé dos brasileiros, razão pela qual ainda há tanto desrespeito pelas religiões de matriz africana, bem como a falta de liberdade na vivência de uma crítica que precisa ser cultivada, em rechaço a valores de autoridade fascista imposta, cujo objetivo é uma hierarquização de religiões, em grau de “importância” e de “líderes inquestionáveis”. Esse tipo de coisa precisa acabar.
Esse plano, seguramente, vem ao encontro desses dissabores, ampliando a conscientização e educação do que, de fato, seja um país laico.
Ou aprendemos a viver o diverso, o contraditório, o diferente, ou nos espatifaremos em uma sociedade de crescente tensão inter-religiosa.
José Medrado é médium, fundador e presidente da Cidade da Luz