Muito se tem falado e escrito a respeito de reuniões mediúnicas e, ainda assim, o assunto persiste atual e palpitante, talvez por envolver a possibilidade de contacto com um mundo que, por mais que estudemos, para a maioria de nós encarnados constitui algo pouco acessível. Por outro lado, “todos somos médiuns”, com a faculdade de nos comunicarmos com os desencarnados, ainda que em gradações diversas de sensibilidade, explicando talvez o porquê das perguntas formuladas quando alguém chega à Casa Espírita: tenho mediunidade? Ou: estou com “encosto”? Na verdade, a pessoa estaria indagando se os desequilíbrios e doenças na área orgânica ou suas inquietações emocionais e até psiquiátricas poderiam ser resultado da mediunidade, da influência de um espírito…
Em Médiuns e Mediunidade, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, Vianna de Carvalho esclarece não ser a mediunidade a geradora do distúrbio no organismo, mas sim a ação fluídica dos espíritos que favorece a distonia ou não, de acordo com a qualidade de que esta se reveste. Resumindo, espíritos perturbados transmitem mal-estar, espíritos elevados, uma aura de bem-estar e paz.
Embora os leigos acreditem ser o médium alguém especial, como se enganam! O médium, via de regra, nada mais é do que o espírito endividado, aquele que muito errou em encarnações anteriores, detentor de compromissos a resgatar, devedor e atado a seus credores espirituais, mas que se comprometeu, quando da elaboração do projeto reencarnatório, a exercitar a caridade, o amor e a paciência junto a desencarnados e encarnados.
Dá para perceber que não é fácil… Paciência? Vivemos a “rodar a baiana” por qualquer coisa! Nem vamos falar da verdadeira caridade, aquela que excede a simples prática da beneficência, mas engloba a reunião de todas as qualidades do coração, a bondade e a benevolência para com o próximo… Amor? Precisaria ser incondicional…
Por que sou médium? Deus deveria escolher alguém melhor do que eu! Dá para tirar a mediunidade de mim? Não quero!
Perdi a conta do numero de vezes que escutei isto em nossa Casa Espírita!
Primeiramente, a mediunidade resulta de uma disposição orgânica, que qualquer pessoa pode possuir, como a de ver, ouvir, falar… Escolhemos, livre-arbítrio, se vamos fazer bom ou mau uso de qualquer uma de nossas faculdades… Através da mediunidade, os bons espíritos vêm aconselhar, apresentar lições de vida que previnam nossos erros e incentivem nossa evolução… Mas também, devido a nossas imperfeições morais, sofremos a influência de espíritos menos evoluídos, ou então daqueles espíritos a quem prejudicamos. Não dá para tirar a mediunidade, mas podemos educar nossos sentimentos, iniciar a reforma íntima, conhecer a faculdade através do estudo dos postulados espíritas.
Na prática, a coisa funciona mais ou menos assim… A pessoa, que já não vem passando muito bem há algum tempo, finalmente procura o Centro, geralmente derradeiro recurso. Quer falar, contar o que está sentindo. Nem sempre consegue, principalmente nas Casas de grande frequência. Afinal, será que diferenciamos quem chega pela primeira vez? Será que a Casa designou uma equipe de trabalhadores para fazer esse primeiro e importantíssimo contato? Não basta acreditar que a pessoa por si só terá a perseverança de assistir ao Evangelho, tomar passe, beber água fluidificada, repetidas e necessárias vezes, se ninguém explicar a ela o porquê de tudo aquilo. Talvez por isso muita gente busque outros atendimentos, onde possa conversar, até falar com um espírito para tentar “resolver” seu problema…
Suponhamos que ela conseguiu o primeiro contacto, explicou o que está ocorrendo… Tenhamos a preparação necessária para colocar em palavras simples e convincentes a realidade, sem mistérios ou toques de sobrenatural, sem principalmente tentar “jogá-la” de imediato em uma mesa mediúnica. Desequilíbrio exige inicialmente Evangelho, passes, água fluidificada e acompanhamento do caso pelos trabalhadores da Casa Espírita. Ficaremos surpreendidos com as melhoras obtidas! Ela irá educando seus sentimentos e os obsessores terão a oportunidade de fazer o mesmo! E receberá o retorno (feedback) essencial à continuidade do tratamento. Nos casos em que a obsessão persistir, a equipe mediúnica atuará, sem a presença do encarnado.
Sabe aquela história de “isso é mediunidade, tem que sentar na mesa o mais rápido possível! Você vai sarar!Nem vai mais precisar de remédio!”? Desconsidere! Participar de mesa mediúnica? Somente com estudo, preparação, sem pressa, pois “doente” não atua como “médico”… Temos que começar a encarar as reuniões mediúnicas como verdadeiras clínicas de atendimento espiritual, onde os desencarnados vão para serem atendidos por pessoas competentes. Jamais para nos sentarmos e resolvermos os problemas que nos afligem. Se necessitarmos da mesa para tanto, outros devidamente preparados deverão atuar. Ah, mas eu acho que fulano melhoraria se sentasse na mesa… Não temos o direito de submeter ninguém, médium ou desencarnado, a “achismos”… Basta dar uma olhadinha no Livro dos Médiuns, que deveria ter sido muito bem estudado …
Desde 1987 participo de mesas de desobsessão. O começo foi dificílimo, pois a única casa espírita da cidade não dispunha de estudos sobre mediunidade e reuniões regulares. E lá chego eu, quase nada conhecendo das obras da Codificação, com a mediunidade aflorada e pouco convencida de que desejava realmente aquilo… Logo após chegaram mais dois ou três candidatos. Reativou-se a mesa mediúnica!
Não guardo boas recordações daquela época, pois mal sabia o que estava acontecendo. Era sentar e receber, receber, receber… E passar mal depois, ir até a casa de algum passista para me livrar dos fluidos deletérios… Adoeci algumas vezes, não devido à mediunidade, mas à falta de conhecimento de como lidar com os obsessores. Quis desistir, afastei-me… Voltei por insistência dos espíritos amigos, que me convenceram de que eu poderia fazer a diferença. Comecei a estudar a codificação, a ler André Luís, tudo por conta própria. Encontrei na biblioteca do Centro um livro pequenino, Obsessão/Desobsessão, de Suely Caldas Schubert… Li e reli! Com o estudo, a luz foi se fazendo no final do túnel! Virei presidente! Qual a surpresa? Em terra de cegos, quem tem um olho é rei! Não deve, contudo, persistir na cegueira parcial e sim batalhar para enxergar com os dois olhos! Mas como é duro colocar na cabeça das pessoas a necessidade de preparo para atender os desencarnados, que não basta boa vontade! No dia do estudo aparecia quase ninguém; no da mesa mediúnica, quase todo mundo… E que fazer? Viver em eterna discussão?
Depois de doze anos, fundei o Grupo de Estudos Espíritas Cairbar Schutel- GEECS. Pelo nome, percebe-se a finalidade… Não era um Centro Espírita de maneira alguma! Mas as pessoas foram chegando, chegando… E virou Centrinho… Os mentores persistiram inflexíveis no tocante ao quesito estudo! Se quiser atuar como médium, tem que estudar… Antes da reunião mediúnica, que é para não fugir! E o coordenador precisa atualizar-se, não pode aceitar de maneira alguma a falta de compromisso dos médiuns, o marasmo, a rotina que aniquila a mesa e agrilhoa os médiuns à mesmice, sem interesse em se aperfeiçoarem. Sabe aquela história de “o mundo espiritual dá jeito”? Não cola! Se fosse para ser assim, fariam tudo por lá mesmo, na espiritualidade.
Divaldo Pereira Franco declarou existirem pessoas (médiuns) que dizem apreciar as reuniões mediúnicas porque nelas vão fazer a caridade. Considera o pensamento incorreto pois ali é o lugar onde vamos aprender e receber a caridade, esclarecendo que o espírito em sofrimento, a quem julgamos estar socorrendo, é que está nos fazendo a caridade, como se estivesse, através de sua presença, alertando: Olhe o que aconteceu comigo, ou você muda de comportamento ou o mesmo poderá ocorrer com você.
Certamente considerando que as lições e depoimentos dos desencarnados constituem instruções práticas disponibilizadas visando à nossa evolução, onde fatos e sentimentos têm tudo a ver conosco, o espírito conhecido como Vó Cândida, uma das mentoras de nosso Grupo, deliberou estabelecer uma parceria muito interessante; ela selecionaria algumas das comunicações recebidas na mesa mediúnica do GEECS, relatando as histórias do ponto de vista espiritual, geralmente por nós desconhecido, ficando a meu encargo os comentários. Diante de minha relutância, pois preferiria que fizesse o trabalho completo, acrescentou rindo: assim você estuda!
Surgiram, desta maneira, os CASOS DA ESPIRITUALIDADE!
Obras consultadas:
O Evangelho segundo o Espiritismo
O Livro dos Médiuns
Qualidade na Prática Mediúnica, Projeto Manoel Philomeno de Miranda
Reuniões Mediúnicas, Projeto Manoel Philomeno de Miranda